"Ela desembarcou aqui como quem diz: 'Meu Deus, o que é isso?' Clarice pegou Brasília e colocou dentro da alma”.
Conceição Freitas, cronista do Correio
Diego Ponce de Leon
Especial para o Correio
Se as rosas falassem, Clarisse Lispector certamente conversaria com elas. A oportunidade aparece na Terça Crônica, hoje, em homenagem à escritora e ao compositor carioca Cartola. O projeto chega no terceiro módulo em companhia de dois artistas brasileiros sempre celebrados e volta a ocupar as mesas do Café com Letras (203 Sul), já habituado com as intervenções musicais e literárias que acontecem por ali.
Jones de Abreu, idealizador do projeto, fica a cargo das leituras dramáticas do universo de Clarice, enquanto Alex Souza, parceiro desde a concepção, em 2008, ecoa as canções de Cartola. Os artistas contam ainda, em cada um dos encontros, com a colaboração de um jornalista convidado. Nesta terça, quem aparece para o bate-papo e devidas intervenções é Conceição Freitas, cronista do Correio, conhecida pelos textos que refletem o cotidiano do brasiliense. Por nutrir uma relação mais íntima (e diária) com a literatura, Conceição antecipa que prefere contribuir no debate sobre Clarice, mas que guarda uma “doce e nostálgica impressão” de Cartola.
Clarice costuma ser lembrada pela densidade dos personagens e enredos que compõem os romances e crônicas que escreveu ao longo da vida, resultando em relações ora perturbadas, ora esclarecidas, com os leitores. Conceição não foge à regra.
Ela separa o relacionamento com a autora em três momentos cruciais. O primeiro deles ocorreu na juventude, quando a atração foi imediata: “Me casei com ela”. Depois da impressão inicial, a jornalista se deparou com as controversas crônicas que Clarice escreveu sobre Brasília: “Ela pegou a cidade e colocou dentro da alma”.
Para Conceição, os textos não criticam a cidade, como comumente se atesta (Clarice caracteriza Brasília como uma cidade “artificial, imagem da insônia”), mas revelam a sincera reação de quem desembarca por aqui, como se dizendo: “Meu deus, o que é isso?”. Finalmente, enveredou pela biografia da ucraniana mais brasileira de nossa literatura e acabou conhecendo “Clarice, pessoa física, muito complicada”. Assim, sintetiza, com uma proeza literária, a relação com a homenageada de hoje: “Admiração, medo e implicância”.
Jones, por sua vez, está ansioso pelo encontro: “Essa combinação de Clarice, Cartola e Conceição é uma ode ao ser humano criador e poético, sua dimensão mais sensível e libertadora”. Ele não pretende desperdiçar a presença da jornalista: “Vou explorar também o lado criador de Conceição Freitas, cujas crônicas ajudam a entender a gênese de ser e estar em Brasília”.
Se a química entre Cartola e Clarice não parece óbvia, nada a temer. Como Conceição diz: “Os casamentos mais estranhos são os que dão certo”.
Terça Crônica
Com Jones de Abreu e Alex de Souza
Hoje, a partir de 20h
No Café com Letras (203 Sul)
Entrada franca
Classificação indicativa livre
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