terça-feira, 18 de dezembro de 2012

As muitas palavras de Affonso Romano



Última sessão do Terça Crônica recebe o célebre cronista, enquanto o músico Alex Souza entoa composições próprias

Diego Ponce de Leon

Qualquer reverência ganha um sabor especial quando o homenageado está logo ali do lado. Nem sempre é possível. A temporada 2012 do Terça Crônica, que homenageia quinzenalmente cronistas e compositores, encomendou várias reverências. As mais de 400 pessoas que prestigiaram o evento, no Café com Letras — 203 Sul (com capacidade para 60), puderam escutar as leituras dramáticas de textos de Clarice Lispector, Nelson Rodrigues e Lya Luft. Hoje, o ator Jones de Abreu, idelizador do projeto, encara um desafio. Da mesma maneira que os módulos anteriores, Jones fica a cargo da leitura das crônicas selecionadas. Dessa vez, porém, o fará na frente do autor. Affonso Romano de Sant’Anna é o cronista celebrado e estará presente, em carne e osso, para participar deste último encontro do ano.
Affonso desembarca na cidade em estado de graça. Além de participar do Terça Crônica, autografa quatro trabalhos. “Foi um ano muito generoso. Saíram várias coisas: o novo livro de crônicas, Como andar no labirinto, um CD de crônicas de amor (Livro Falante), a 10° edição de Análise estrutural de romances brasileiros e a 4° edição de O canibalismo amoroso, além da versão italiana de O enigma vazio (L’enigma vuoto)”, antecipa.
A presença de Affonso é um anseio recorrente de Jones de Abreu. No que depender do ator, a oportunidade não será desperdiçada: “É mágico terminar essa temporada tão bem-sucedida com ele. Será um importante momento de escuta. Afinal, estarei diante de um dos maiores cronistas e poetas da língua portuguesa”, comemora.

Composições próprias
 
O festejado cronista não é o único homenageado da noite. Este último módulo abre espaço para o músico Alex Souza mostrar o trabalho autoral pelo qual é conhecido na cidade. Parceiro do Terça Crônica desde a concepção, em 2008, Alex costuma brindar os presentes com as canções de compositores selecionados para a temporada. Assim foi durante este segundo semestre. Empunhado do violão, interpretou Rita Lee, Luiz Gonzaga, Vinícius de Moraes, entre outros. Dessa vez, canta o repertório que assina.
“Vou mostrar a última música que fiz, e a primeira”, revela o músico, que pretende passear pela carreira durante o evento. “Quero tocar alguma música do Caraivana (banda de choro e samba que integra), além de Brilho no olhar, uma das vencedoras do Prêmio Sesc de Música Tom Jobim”. Brasiliense, Alex cresceu envolto pelo cosmopolitismo musical da cidade: “Um vizinho escutava samba, o outro Clube da Esquina, um terceiro MPB. Meu mergulho na música começou cedo e variado”. Hora de conferir o resultado desse caldeirão.


Terça Crônica
Crônicas de Affonso Romano de Sant’Anna e canções de Alex Souza. Com o ator Jones de Abreu e com o músico Alex Souza. No Café com Letras (203 Sul). Entrada franca. Classificação indicativa livre.

>> Três perguntas // Affonso Romano de Sant’Anna

Há quem diga que você seja o sucessor de Drummond. Como encara a comparação?
Essa afirmativa generosa da crítica me criou vários problemas. Houve, é verdade, algumas coincidências: o substitui como cronista no Jornal do Brasil, ele gostava muito da tese que escrevi sobre ele (dizia que eu o havia “desparafusado”), chamaram-me para desfilar na Comissão de Frente, quando Drummond foi tema da escola(1987).Mas a coisa pára aí. Aliás, é necessário acabar com essa coisa do “poeta oficial”, parece monarquia, um rei de cada vez. A poesia sopra onde quer.

Sua relação com Clarice Lispector é assídua. De que maneira se relaciona com o trabalho dela?
Minha relação e a da Marina Colasanti (esposa do escritor) com Clarice era especial. Por isso entreguei à Unesp o livro Com Clarice com uma serie de textos e depoimentos. Tínhamos uma certa intimidade com ela: aquela cartomante de A hora da estrela,  nós a apresentamos à Clarice. Conversávamos sempre, Clarice  esteve em nossa casa, dedicou um livro à  nossa filha Fabiana, ia à PUC/RJ a meu convite, enfim, mil coisas. Fizemos com ela aquela preciosa entrevista — Museu da Imagem e do Som/1975 — que os críticos até hoje usam fartamente.

Há relatos de que você seja avesso a aparições. Procede?
Ao contrário. Vivo na estrada. Pertenço à geração de escritores que  a partir dos anos 1970 vararam o Brasil de ponta a ponta em vários projetos, indo aos lugares mais improváveis para falar de literatura e leitura. E quando dirigi a  Biblioteca Nacional (1991-1996), então, era uma loucura, porque juntaram-se os compromissos internacionais.

A vanguarda e a poesia
Aos 28 anos, Affonso Romano de Sant’Anna lançou o primeiro livro, Canto e palavra (1965). Porém, as contribuições literárias começaram três anos antes. O emblemático ensaio O desemprego da poesia (1962) marcou a estreia na escrita. Ele próprio atesta: “Esse foi um texto crucial para mim. Coisa de jovem estudante, quando estava metido, ao mesmo tempo, com as vanguardas e com o Centro Popular de Cultura da UNE”.
Durante a década anterior, ocupou-se com movimentos de expressão poética. Passou alguns anos lecionando e intervindo no meio acadêmico. Assim o fez nos Estados Unidos, no final da década de 1960, e, posteriormente, na PUC do Rio de Janeiro. Portugal, Dinamarca e França também conheceram os cursos ministrados por Affonso. As crônicas, que o tornaram conhecido nacionalmente, começaram pelo Jornal do Brasil e seguiram para O Globo. Atualmente, escreve para o Estado de Minas e para o Correio Braziliense .


“Essa homenagem que fazem agora em Brasília me toca”
Affonso Romano de Sant’Anna, escritor


4 anos
Tempo de existência do projeto Terça Crônica

100
Livros sorteados nesta última temporada

8.000 pessoas
Público do projeto desde o início

60
Cronistas e compositores homenageados







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